Stewart Sukuma - Raízes de Um Ícone
ㄴ©Rádio Moçambique-RM
Stewart Sukuma
Nascido como Luís Pereira em 1963, na cidade de Cuamba, província do Niassa, Stewart Sukuma cresceu em uma família modesta, onde desde cedo aprendeu o valor da luta, da disciplina e da dedicação. Foi nesse ambiente simples, mas rico em valores, que o seu amor pela música começou a germinar. Ainda na infância, ele já mostrava sinais de que um dia se tornaria um dos maiores ícones musicais de Moçambique.
A busca por sonhos mais amplos levou-o, em 1977, até à cidade de Maputo, onde teve contato com instrumentos musicais e novas influências culturais. Aprendeu a tocar percussão, guitarra e piano, ferramentas que viriam a ser cruciais para sua identidade artística. Essa etapa da sua vida marcaria o início de uma jornada longa, rica e profundamente inspiradora para as gerações vindouras.
Primeiros Reconhecimentos
Em 1982, Stewart iniciou sua jornada nos palcos ao juntar-se a uma banda, onde desenvolveu ainda mais suas capacidades vocais e instrumentais. No ano seguinte, gravou o seu primeiro trabalho discográfico para a Rádio Moçambique, marcando a sua entrada oficial no cenário musical moçambicano. Esse momento não apenas consolidou seu talento, mas também o colocou sob os holofotes da crítica e do público.
Ainda em 1983, o seu talento foi reconhecido com o prestigiado Prémio Ngoma para Melhor Intérprete Nacional, um feito impressionante para um artista em início de carreira. Esse reconhecimento impulsionou sua popularidade, tornando suas canções presença constante nas rádios e em festas populares. Stewart Sukuma tornava-se, assim, uma voz que ecoava esperança, identidade e autenticidade.
Sucesso Internacional
A sua carreira deu um salto significativo em 1987 com a gravação do álbum Independência, em Harare, no Zimbabwe, com a Orchestra Marrabenta Star de Moçambique. Este álbum simbolizava muito mais do que música; representava um espírito de liberdade e uma afirmação da cultura moçambicana num momento em que o país ainda buscava fortalecer sua identidade pós-colonial.
Stewart Sukuma começou então a conquistar os palcos internacionais. Atuou em importantes festivais na Europa, como o Festival de Berlim, e brilhou no histórico Hackney Empire, em Londres. Também encantou plateias na Finlândia, Noruega, Dinamarca, Suécia e Holanda. Nessas andanças pelo mundo, teve a oportunidade de partilhar o palco com lendas como Bhundu Boys, Mark Knopfler, Youssou N'Dour, Miriam Makeba e Hugh Masekela. A música moçambicana estava, finalmente, sendo apresentada ao mundo com toda sua força e riqueza, e Stewart Sukuma era seu mais nobre embaixador.
Fusão dos Ritmos
Em 1995, Stewart mudou-se para a África do Sul, uma decisão estratégica que o aproximaria de novas sonoridades e influências. Foi lá que produziu Afrikiti, um álbum que representava a fusão perfeita entre os ritmos africanos, a música pop e elementos da música brasileira. Sua capacidade de misturar culturas e sons, sem perder a essência moçambicana, tornou-o um artista verdadeiramente universal.
Cantando em português, inglês e línguas africanas, Stewart Sukuma demonstrava versatilidade linguística e musical. Suas canções falavam de amor, de dor, de luta e de esperança, sempre com uma sonoridade que convidava o ouvinte a dançar e refletir. Esse álbum consolidou sua reputação como um artista inovador, sem medo de explorar novos horizontes e de reinventar-se constantemente.
Reconhecimento Global
Em 1998, Stewart Sukuma fez história ao tornar-se o primeiro moçambicano a estudar na prestigiada Berklee College of Music, em Boston, nos Estados Unidos. Esse feito não só elevou o seu nível técnico e artístico, como também abriu caminho para que outros jovens moçambicanos vissem a música como uma carreira viável e internacionalizável.
Nesse mesmo ano, recebeu o Prémio de Música da Unesco em Moçambique, uma distinção que reconhecia seu impacto cultural e artístico. Em 1999, participou do Houston International Festival no Texas, ao lado de artistas como Angélique Kidjo, Abdullah Ibrahim e Oumou Sangaré. A música de Stewart, carregada de alma e identidade africana, era agora celebrada nos quatro cantos do mundo.
Em junho de 1998, encantou o público europeu ao realizar três concertos na EXPO’98, em Lisboa, Portugal, fortalecendo ainda mais os laços culturais entre os países de língua portuguesa.
Prémios
Ao longo da sua carreira, Stewart Sukuma lançou álbuns que marcaram época, como NKHUVU (2008), Boleia Africana: Os Sete Pecados Capitais (2014) e O Meu Lado B (2016). Cada projeto revelava uma nova faceta do artista e aprofundava sua ligação com o povo moçambicano. Suas composições, como Felizminha, Wulombe, Olumwengo, Xitchuketa Marrabenta e Caranguejo, tornaram-se verdadeiros hinos populares.
Entre os muitos prémios que acumulou estão o Pressione Award - Ngoma Moçambique (1992), Melhor Canção do Ano (Ngoma Moçambique 1994, 1996, 2008, 2010), o Mozart Award/UNESCO (1997), e a distinção como Personalidade Cultural do Ano pelo Jornal Notícias (2008). Cada troféu representava o reconhecimento do seu talento, da sua entrega e da sua contribuição para a cultura moçambicana.
Em 2016, o artista foi condecorado com o título de Oficial da Ordem do Mérito de Portugal, numa cerimónia marcada pela visita do Presidente português Marcelo Rebelo de Sousa a Moçambique. Essa homenagem simbolizou o respeito e a admiração internacional por sua carreira.
Inspiração
Stewart Sukuma não é apenas um cantor; é um símbolo de identidade nacional, um embaixador da cultura moçambicana e um exemplo vivo de perseverança, humildade e inovação. Sua trajetória, marcada por superações, conquistas e paixão pela arte, é uma fonte de inspiração para músicos, jovens sonhadores e amantes da cultura africana.Hoje, ele continua a influenciar novas gerações através de sua música, do seu ativismo cultural e do seu trabalho com jovens talentos. É impossível falar da música moçambicana sem mencionar o nome de Stewart Sukuma. Ele representa uma ponte entre o passado e o futuro, entre a tradição e a modernidade, entre Moçambique e o mundo.
A sua história é uma prova de que o talento, quando aliado à determinação, pode ultrapassar fronteiras, quebrar barreiras e eternizar-se na alma de um povo. Stewart Sukuma é, sem dúvida, uma das maiores riquezas culturais de Moçambique. Um nome que permanecerá vivo, enquanto houver alguém para cantar, sonhar e lutar com música no coração.

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