Das margens da cidade às margens da alma do  Deltino 

Nascido e criado num dos bairros periféricos da cidade de Maputo, Deltino Guerreiro carrega nas veias a pulsação viva de uma cidade que canta em todas as esquinas. Desde cedo, mergulhou na arte como quem busca oxigênio: dançou, respirou o ritmo, sentiu o compasso da cultura que o cercava. Mas foi na música que encontrou seu verdadeiro altar - um espaço íntimo onde alma e som se abraçam.  Para Deltino, a música não é apenas entretenimento. É alimento para a alma, linguagem que se molda ao sentimento de quem a escuta. Ele acredita que, quando livremente interpretada, ela proporciona uma viagem única e pessoal, onde cada nota tem o poder de tocar histórias, cicatrizar feridas e reacender esperanças.
©NGANI- Moçambique falando por si

Nascido e criado num dos bairros periféricos da cidade de Maputo, Deltino Guerreiro carrega nas veias a pulsação viva de uma cidade que canta em todas as esquinas. Desde cedo, mergulhou na arte como quem busca oxigênio: dançou, respirou o ritmo, sentiu o compasso da cultura que o cercava. Mas foi na música que encontrou seu verdadeiro altar - um espaço íntimo onde alma e som se abraçam.

Para Deltino, a música não é apenas entretenimento. É alimento para a alma, linguagem que se molda ao sentimento de quem a escuta. Ele acredita que, quando livremente interpretada, ela proporciona uma viagem única e pessoal, onde cada nota tem o poder de tocar histórias, cicatrizar feridas e reacender esperanças.


Da dança ao silêncio da composição

Embora já tenha sido dançarino, Deltino Guerreiro escolheu calar o corpo para dar voz à alma. Hoje, define-se mais como compositor que intérprete, revelando-se um artesão da palavra e do som.

É um artista que carrega firmeza no pensamento e doçura na fala. Prefere os silêncios às polémicas, pois sabe que a sensibilidade alheia é um território sagrado. Ainda assim, quando fala de arte, fala com ardor: defende que a música em Moçambique só atingirá o seu potencial pleno quando houver investimento sério desde o ensino primário. Acredita que educar o ouvido é tão importante quanto educar o olhar - e que uma sociedade que sabe escutar é uma sociedade que sabe escolher.



Eparaka - a bênção em forma de som

Foi em Fevereiro do ano passado que Deltino lançou o seu primeiro álbum de originais: Eparaka, palavra que significa “bênção” na sua língua materna. Composto por dez faixas interpretadas em português, inglês e macua, o disco é uma verdadeira declaração de identidade. O cantor preferiu não dividir o microfone com mais ninguém. Quis que este primeiro voo fosse só dele. “Preferi cantar tudo sozinho para mostrar que este é um trabalho meu, fruto das minhas pesquisas, da minha inspiração”, afirma. E assim foi. Cada faixa carrega um pedaço do seu universo, cada melodia um eco das suas vivências.


Influências, amores e lutas

Entre os nomes que o inspiram, Deltino cita Stewart Sukuma, Jimmy Dludlu e até o grupo Westlife - um reflexo da sua abertura musical e visão ampla. Mas é no conteúdo das suas letras que o artista se distingue: canta o amor em sua forma mais elevada, aquele que ultrapassa o romantismo para alcançar a empatia, a solidariedade e o desejo de um futuro melhor. Na música “Sonho”, fala de esperança, de batalhas silenciosas, da vontade de dar aos filhos o que não teve. Já “Deixa esse aí” é um grito contra a violência doméstica, pedindo à sociedade que enxergue o valor da mulher e que não ignore as dores silenciadas dentro de tantas casas.

Fé que transcende o palco


No coração do álbum Eparaka, está Deus. A espiritualidade de Deltino Guerreiro é discreta, mas constante. Para ele, a verdadeira bênção não vem do aplauso, mas da paz interior que só a fé proporciona. Na faixa “Se eu te dissesse”, o artista aponta o dedo para uma sociedade cada vez mais desligada de sentimentos verdadeiros. Fala de aparências, da pressa em ser notado e da perda de valores que, antes, pareciam imutáveis. Mas não há amargura em suas canções, apenas um apelo à reflexão, à ternura, à reconexão com aquilo que realmente importa: amor, respeito, fé.

O silêncio e a serenidade de um guerreiro

Apesar de todos os seus feitos, Deltino Guerreiro é um homem que foge do ruído. Atende raramente o telefone, evita entrevistas, prefere a serenidade à exposição. Quando aceitou contar sua história, o encontro seria no CCFM, mas como é próprio dos artistas, mudou de ideia na última hora. Há uma poesia natural em seus gestos, uma leveza que não se ensina - só se sente. Deltino não precisa gritar para ser ouvido. Sua música já fala por ele. E com cada nova nota, cada verso lançado ao mundo, reafirma que está apenas a começar.

Deltino voa -e leva com ele o som de uma geração que, enfim, começa a escutar com o coração.


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